Temos observado que é comum utilizarmos metodologias de estudos aplicadas no público adulto e replicarmos em estudos com jovens. Percebemos que as aulas possuem um embasamento doutrinário muito bom mas no momento de transmitir este conteúdo, o jovem demonstra pouco interesse, gerando uma possível desmotivação dos trabalhadores da mocidade.
Este é um cenário mais comum do que imaginamos. É certo que o trabalho com o jovem requer adaptação dos trabalhadores, ainda mais se houver uma diferença de idade considerável entre eles e os participantes. Mas antes de entrarmos na parte em que apresentamos possíveis soluções para este desafio, é importante alinhar o conceito de aula atrativa. Existem alguns pontos sobre os quais precisamos refletir que impactam diretamente nos encontros da juventude e por isso os atribuímos como características que influenciam diretamente no sucesso da aula, ou seja, que possibilitam que uma aula seja atrativa. Podemos então, considerar que aula atrativa é aquela em que (FEB, 2016):
existe um cuidado com o conteúdo doutrinário;
se promove o acolhimento dos jovens;
a estrutura organizacional foi pensada para atender aos jovens;
o conteúdo doutrinário foi adaptado à linguagem e à realidade do jovem, ou seja, houve uma preocupação com a metodologia da aula.
Baseado neste conceito, este texto possui a finalidade de contribuir com o planejamento de encontros de juventude para que sejam atrativos. Optamos por aprofundar, neste texto, no atributo metodológico dos estudos. Essa escolha foi baseada no relato de trabalhadores a respeito dos desafios que a temática proporciona.
Diante deste cenário, apresentamos aqui algumas técnicas, ferramentas e conceitos que poderão te auxiliar no momento de planejamento e de execução das aulas. Para isso, trouxemos conteúdos voltados para a qualidade pedagógica, conforme indicado pela FEB (2016) no livro Orientação para Ação Evangelizadora Espírita da Juventude, no item 2.6 a respeito da qualidade na tarefa. Guillon Ribeiro ressalta a importância do cuidado:
“Que jamais se descuidem do aprimoramento pedagógico, ampliando, suas aptidões didáticas para que não se estiolem sementes promissoras ante o solo propício, pela inadequação de métodos e técnicas de ensino, pela insipiência de conteúdos, pela ineficácia de um planejamento.” (Guillon Ribeiro)
Utilizar a vivência como ferramenta na mocidade consiste em um meio de sensibilizar o coração e elevar o conhecimento. Isso significa que, se você deseja ensinar algo, antes de explicar, é necessário sentir no coração. Para deixar mais clara a importância da vivência, vamos tomar como exemplo a atividade a seguir, que propõe aos jovens realizarem uma gincana. Nela, os jovens farão atividades que, em geral, são realizadas por adultos, com o intuito de estimular a empatia do jovem pelo adulto para abordar a temática Honrar Pai e Mãe (Cap. 14 E.S.E.).
Essas atividades podem ser: organizar a sala da mocidade ou fazer a soma de algumas contas fictícias de casa, por exemplo. Depois disso, questionar: “O que vocês perceberam? Qual sentimento despertou em seu coração? O que isso tem a ver com seu dia a dia?” Após eles sentirem como são as atividades dos pais, podemos aprofundar no assunto Honrar Pai e Mãe.
Uma observação muito importante: quando for promover a reflexão logo após a vivência, devemos perguntar "qual sentimento foi despertado no coração" ou "o que mais chamou a atenção", etc., e não "foi despertado um sentimento bom?" ou "a parte que mais chamou a atenção foi dar banho na boneca?". As perguntas não devem conter as respostas, para não induzir os jovens. É necessário que as perguntas sejam abertas para que o próprio jovem apresente sua opinião sem nenhum viés.
Após eles sentirem o que é ser um adulto, podemos aprofundar no estudo sobre Honrar Pai e Mãe.
A vivência seguida de reflexão, em geral, faz parte da fase de controle, mas nada impede que seja feita uma vivência integrativa como um gatilho para o conteúdo da aula.
Falando em fase de controle, a seguir abordamos o tema fases de grupo que explica cada uma das fases.
Criar um ambiente que facilite o aprendizado do jovem nas reuniões das mocidades consiste em um dos nossos maiores desafios. Para criar este ambiente, sugerimos que, durante o planejamento, a estrutura do estudo da mocidade seja dividida em três momentos: inclusão, controle e afeição.
É bem provável que nas primeiras reuniões o jovem não se sinta parte do grupo da mocidade, podendo chegar a sentir insegurança. Por este motivo, é necessário que seja trabalhada a inclusão, (re)estabelecendo o vínculo de confiança e amizade entre os jovens e deles com a coordenação da mocidade. Pode-se pedir para cada jovem se apresentar de forma criativa, dizendo seu nome e algum aspecto que mais chama a atenção dele de acordo com o contexto atual.
Quando os jovens falam e se expressam, é possível conhecer um pouco mais sobre seu perfil e os desafios que estão enfrentando. Além disso, desenvolvendo atividades integrativas, sempre tendo como base a Doutrina Espírita, é possível que os jovens "quebrem o gelo" e sejam mais participativos quando chegar o momento seguinte, de estudo e reflexão. Quanto mais tímido e menos participativo o grupo for, mais tempo será necessário dispor na etapa de inclusão.
Depois de trabalhar a inclusão do jovem, pode-se levar o conteúdo doutrinário de forma mais profunda. Essa etapa é a que chamamos de controle. Nela podemos realizar vivências, leituras de textos, promover discussões, assistir algum vídeo, etc. Em geral, a fase de controle é a fase que mais estamos acostumados a realizar, pois ela é predominante nas escolas e nas faculdades.
Engana-se quem acha que a cereja do bolo na reunião da mocidade é o estudo. Após a fase de controle, é chegada a última etapa, a afeição. Este é um momento que não tem muito a ver com o cognitivo, com o estudo, mas sim, com o coração. Como o nome já diz, é necessário promover o afeto no jovem para que ele relacione o estudo com um bom sentimento (memória emocional é mais efetiva do que a memória cognitiva). Com isso, o jovem lembrará com mais facilidade do conteúdo, possibilitando sua prática, além de desejar voltar na próxima reunião da mocidade e se integrar no grupo de WhatsApp ao longo da semana, por exemplo.
É importante conhecer o jovem para saber o caminho para sensibilizar o coração dele.
Veja a seguir algumas atividades de inclusão:
Colocar uma música com letra profunda relacionada ao conteúdo (dependendo do grupo, a música "Te Ofereço Paz" pode proporcionar isso).
Durante os encontros com trabalhadores da juventude nas regiões do estado, no ano de 2019, nós finalizamos o momento em sala com uma visualização do seu passado e encerramos com uma carta a si mesmo, como se cada um estivesse orientando o próprio jovem que um dia ele foi e, ao mesmo tempo, o jovem do presente que está na mocidade. Mexer com o sentimento é desafiador, principalmente se o jovem não teve experiências fáceis.
É desta forma que procuramos trabalhar até mesmo no Congresso Espírita de Goiás, na programação jovem. No primeiro dia de congresso, trabalhamos bastante a integração, preparando o jovem para o segundo dia, para a fase de controle, onde aprofundamos o conteúdo. O último dia é sempre o momento mais afetivo, para que o jovem saia do Congresso com vontade de colocar em prática tudo o que foi estudado e que se sinta motivado a retornar no próximo ano. Da mesma forma, isso pode ser feito na mocidade, aumentando as chances de atrair e reter mais jovens.
Com o intuito de exemplificar os conceitos de vivência e fases de grupo, apresentamos a seguir a síntese de um estudo para mocidade com estes conceitos comentados para você identificar na prática o funcionamento deles.
Tema: Influência da mídia nos jovens
Subsídio doutrinário: Adolescência e Vida (Divaldo Franco e Joanna de Ângelis), Cap. 13.
A gamificação consiste em usar elementos de jogos para estimular os jovens a se engajarem. Gincanas, desafios e competições são exemplos de gamificação. Em geral, jovens tendem a ser competitivos e são mais propensos a se engajarem nos estudos quando associamos métodos de gamificação com conhecimento doutrinário.
É importante ressaltar que o uso de gincanas e desafios, por exemplo, precisa ser de forma saudável e que estimule o jovem a crescer sobre si mesmo e não sobre o outro. Vale ressaltar também que gamificação não consiste em ofertar um bombom para cada acerto do jovem. A gamificação vai além disso. Veja um exemplo:
Um grupo de jovens estava com dificuldades de identificar o esforço dos pais e familiares em oferecer o bem estar para o jovem. Podemos relacionar com a temática "Honrai vosso pai e vossa mãe”(cap. 14 - Evangelho Segundo o Espiritismo). Pensando nisso, criamos um circuito de atividades que simulam atividades do dia a dia de um adulto: simular o pagamento de uma conta, varrer o chão, dar o banho em uma boneca, organizar objetos da sala. O jovem tinha que fazer todo o circuito em menor tempo possível. Essa foi a vivência inicial da aula. Depois disso, promovemos uma discussão sobre a temática.
Pensando em outro contexto, uma mocidade nos relatou de um projeto semestral em que os jovens são estimulados a pedirem doações para vizinhos e familiares com o intuito de arrecadar alimentos e de contemplar uma instituição que necessita deles. O grupo de jovens que mais arrecadar, é o vencedor da competição. Apesar de um grupo se destacar arrecadando um maior número de alimentos, é importante ressaltar que todas as equipes serão recompensadas. No momento da entrega dos alimentos, todos os jovens participam, realizando o trabalho assistencial. Em contra partida, a mocidade realiza uma confraternização como "recompensa” para os jovens.
Caso você queira aplicar a gamificação na sua mocidade, apresentamos alguns pontos que você pode levar em consideração ao planejar a atividade:
Pensar em um sistema de pontos e recompensas. Refletir doutrinariamente sobre, principalmente, as recompensas, uma vez que precisamos ajudar o jovem a entender que a recompensa material é fácil de conseguir e de aprender sobre, já que a sociedade reforça isso o tempo todo. O nosso propósito é ajudar o jovem a entender que a recompensa de arrecadar alimentos é a gratidão ao entregar os alimentos para quem precisa, é saber que este é o caminho que Jesus nos indicou.
Ter uma missão e os desafios que precisam ser cumpridos. São missões e desafios que tenham uma certa dificuldade para ser feitos mas não ao ponto de ninguém conseguir realizar. Além disso, todos os desafios e tarefas precisam estar alinhados doutrinariamente.
Criar uma narrativa, ou seja, contar uma história que estimule a participação dos jovens. É necessário compreender o que os jovens percebem de valor para saber como esta história pode ser contada.
As metodologia ativas consistem em uma abordagem de ensino que oportunizam o jovem a exercer protagonismo, é o momento em que o jovem é colocado no centro do processo de aprendizagem.
Uma das formas de trabalhar com metodologias ativas consiste em entregar um problema para os jovens e pedir que eles resolvam este problema, oferecendo os recursos necessários para encontrar respostas. Tivemos a oportunidade de facilitar um estudo em que o jovem foi desafiado a apresentar de forma criativa sua família. Um grupo de jovens apresentou seus familiares com recortes de revistas, colando em um cartaz elementos que representavam suas famílias. Outro grupo criou uma pequena peça de teatro que apresentou um recorte da dinâmica familiar. Um último grupo utilizou uma técnica chamada draw my life, que filma pelo celular uma pessoa desenhando e depois associa a uma narrativa gravada e relacionada ao vídeo. Veja o exemplo abaixo:
Outra forma do jovem exercer seu protagonismo é oportunizar o planejamento e a condução de um estudo da mocidade e, quem sabe, até realizar a reunião pública do Centro Espírita. Vale ressaltar a importância de dar oportunidade ao jovem, assim como dar orientação a ele, de forma equilibrada, ou seja, deixando ele buscar o conhecimento em obras de cunho doutrinário direcionadas anteriormente pelos coordenadores do trabalho, assim como orientar em técnicas de organização e oratória, por exemplo.
O perfil do jovem da sua mocidade é quem vai direcionar o conteúdo a ser estudo, bem como a didática que você precisará utilizar para atingir os corações dos jovens. Se o espiritismo é a doutrina que nos ajuda a entender o nosso mundo interior e exterior, e nos aponta o caminho até o nosso Pai, os melhores temas que podemos abordar nos estudos são aqueles que auxiliarão o jovem a compreender o contexto que ele vive e de que forma podemos ajudá-lo a encontrar o caminho para o Criador.
Planejar os estudos com antecedência favorece o nosso processo criativo. Quanto mais próximo ao estudo a gente planejar, menor será o tempo que teremos para pesquisar, refletir e organizar as atividades.
A estratégia de trazer o jovem para realizar o planejamento junto com a equipe de trabalho é a de exercer o protagonismo juvenil. Esta estratégia possui vários benefícios:
Auxilia na formação de novos trabalhadores;
O jovem é um termômetro das atividades antes de você aplicar, ou seja, ela vai te dizer se a atividade planejada será atrativa ou não para o jovem;
O jovem pode ser também um apoio criativo na fase de planejamento;
O jovem se engaja mais na realização da aula quando ele participa do planejamento.
Os espaços de atuação do jovem são apresentados no livro de Orientação para a Ação Evangelizadora Espírita da Juventude, da FEB. Estes espaços podem dinamizar os estudos com os jovens, fornecendo tipos diferentes de encontros. Leia na íntegra o material sobre os espaços de atuação no livro que está disponível para download em nosso site, na aba de download (mocizade.feego.org.br/download). A seguir, fazemos uma breve descrição de cada espaço. Reflita qual destes espaços os jovens da sua mocidade mais tem afinidade, se você já realizou encontros para contemplar todos eles.
O espaço mais comum nas mocidades consiste no espaço de estudo da Doutrina Espírita. Em geral, as mocidades realizam seus encontros para estudarem determinadas temáticas sob a ótica da Doutrina Espírita.
A formação moral do jovem é iniciada no lar, pela família. A mocidade é um apoio na sua educação moral. Diante disso, se a mocidade busca auxiliar este jovem a se desenvolver moralmente, é necessário estar próximo à família, envolver a família em atividades como a realização de uma visita assistencial em conjunto, uma apresentação artística da mocidade para os familiares, ter espaços de confraternização integrados. Além de proporcionar um espaço saudável do jovem com a família, a família tende a ver e a valorizar o trabalho que está sendo feito com seus filhos. Desta forma, a família se torna um agente que apoia ainda mais os encontros com a mocidade, favorecendo realizar atividades além dos estudos, por exemplo.
Os espaços de confraternização promovem a integração e o fortalecimento dos laços de amizade entre os jovens. Estes espaços podem ser a participação de eventos, como congressos espíritas, visitas a outras mocidades, excursões, ou até mesmo a visita a algum membro da mocidade, ida ao cinema, prática de algum esporte. Importante destacar que é necessário ter a presença de trabalhadores da mocidade para que estes espaços sejam saudáveis e coerentes com os estudos realizados a respeito da Doutrina Espírita.
Vivenciar os estudos da Doutrina Espírita é imprescindível para o jovem. O jovem melhora sua autoestima, desenvolve habilidades, exerce a empatia e a paciência por meio da vivência do evangelho e da realização de ações sociais. Estas práticas podem ser atividades de trabalho voluntário dentro do Centro Espírita, visitas a instituições de apoio e promoção social, e causas solidárias.
O jovem que tem a oportunidade de trabalhar não só na Mocidade mas também em outras áreas do Centro Espírita, tende a não se desvincular do Centro Espírita ao longo da vida. A orientação ao jovem é imprescindível, assim como a oportunidade de trabalhar. Cada área (atendimento espiritual, mediunidade, família, infância, juventude, promoção social, arte, comunicação) possui organização, processos, e regras diferentes que precisam ser compreendidas pelos jovens. Por isso que o trabalho de orientação é importante. Mas também vale ressaltar que o trabalho não pode ser enrijecido ao ponto de impossibilitar ao jovem conhecer e de tornar-se um trabalhador hoje ou no futuro, dependendo da área.
A participação dos jovens em eventos espíritas fora do Centro Espírita ajuda a estender os laços de amizade, a estimular o senso de pertencimento do jovem ao Movimento Espírita, e a encontrar apoio e auxílio aos desafios vivenciados pela própria mocidade.
Por fim, apresentamos uma lista de alguns pontos que recomendamos evitar com o intuito de deixar os estudos da mocidade mais atrativos.
Com o pretexto de atualizar-se, estudar obras variadas deixando de lado as obras da codificação Espírita.
Analisar com os jovens temas de interesse deles, explorando os aspectos biológicos, psicológicos ou sociais, sem estudá-los à luz da Doutrina Espírita.
Acreditar sempre que a ajuda espiritual poderá suprir o planejamento de ensino e a preparação adequada do evangelizador.
Expor a Doutrina Espírita de maneira sofisticada e apresentando teorias científicas do mais alto raciocínio, afastando de suas aulas aqueles que possuem menos conhecimento.
Esquecer-se de relacionar o conteúdo doutrinário com as experiências de vida dos jovens.
Ausentar-se dos grupos de estudo da Doutrina Espírita, acreditando já possuir conhecimentos suficientes.
Desvalorizar as experiências pedagógicas concretas, sem o devido exame, por preconceito ou autossuficiência.
Utilizar aulas prontas da internet sem nenhuma adaptação, uma vez que elas foram planejadas para atender a um perfil de jovem que provavelmente não é igual ao da sua mocidade.
Deixar de avaliar os estudos tanto com os jovens quanto com os trabalhadores.
Ignorar o contexto social e familiar do jovem.
Deixar de envolver a família.